domingo, novembro 23, 2003

Ha uma comunidade surreal e subversiva, adoradora de zeros e uns, que vagueia por estes cantos de cyberespaco e navega no sol do rato e nas runas do teclado...
por vezes invejo o cigarro... este que vejo aqui diante de mim, já apagado, num cinzeiro sozinho, mas com a certeza segura de que em breve terá enúmeros companheiros, todos eles como ele próprio com o seu fim atingido, com o seu destino realizado... pois todos eles tiveram já a centelha da vida, a chama incandescente de se saberem vivos, apesar de por efémeros instantes... de se sentirem úteis, realizados e apesar de por breves instantes para nós humanos, para eles decerto uma eternidade... acreditarao eles também na vida eterna? ou nas almas? pensará o cigarro nas inquietacoes das suas accoes ou nao accoes ou aguardará pacientemente pelo cumprimento do seu prometido destino? com a cadencia da água no rio e na cascata que vejo em sonhos e que me persegue nos restaurantes chineses, com a seguranca da gota que pinga insistentemente na torneira mal fechada e que tortura pela sua inolvidável consistencia e ritmicidade, pelo tempo que para ela nao passa daquele quase segundo em que se reúne a todas as outras que antes dela já por lá passaram e reviraram tambem aquele ar, aquele frémito de vento pequeno que as formigas abana, sinto a ampulheta da vida que a cada minuto avanca mais um grao e mais um pedaco...
na certeza porém de que cada minuto é meu e de todos com quem o partilho... o que é o tempo, afinal?