domingo, novembro 30, 2003

É surpreendente a rapidez como o nosso mundo é abalado com estas pequenas coisas...
Sentir a fraqueza e o vacilar da pessoa ao teu lado por por momentos a cascata de memórias que a inunda é demasiada para suportar e conheceres bem demais a razão... conheces pois há dias em que lá estás também... memórias que te agarram e tu as agarras com prazer... pois és tu e foste tu e perduram em ti aqueles momentos e manténs viva a esperança e a chama daquela pessoa que conheceste e foi tão fantástica em tantos variados momentos e momentos houve em que não acompanhaste a sua ascensão ao plano superior, de desconexão do superficial, do acessório e no agarrar das pequenas coisas, dos nadas de que o tudo é feito... as larachas, a presença mesmo que silenciosa que te inundava e te rodeava, que te amparava, o porto seguro que te segurava e te confortava quando as coisas não corriam bem, com a sua enorme disponibilidade... disponibilidade do fundo do coraçao, sempre e sempre, vezes sem conta... dava sem saber e sem querer saber do que dava...
há pessoas que não conseguem deixar de dar...
está-lhes no sangue...
espero que esse sangue corra em mim também...
serei decerto uma pessoa melhor...
No outro dia passei a tarde e a noite no aeroporto à espera de uma pessoa e na minha cabeça só me passava que gostava que outra pessoa também viesse naquele momento... e perdia-me em correrias a portugal para a abraçar, para a ouvir, sentir o seu calor... e senti como nunca a dureza da profundidade destas saudades ... sentir tanto que doi por dentro, que rebenta os grilhões das tuas emoções, dos teus sonhos e passas a sonhar acordado em vê-la chegar do avião, em abraçá-la, e sentires inveja de todos aqueles que como tu morrem de saudades, esperando, ali ao teu lado, ansiosamente pela abertura das portas para o tão desejado beijo e caloroso abraço...
esse dia virá...
e nesse dia serei radiante e resplandescente, de luz e do reflexo do nosso sorriso, do nosso amor quente e forte, destes laços apertados... serás anjo, serei taxonuvem, serás arco-iris, serei pallette... seremos...
únicos.
Por vezes há uma vozinha a que não deveriamos dar ouvidos... a voz da implicação, quezilenta e mordaz, que morde os calcanhares de quem se gosta e os martiriza. a eles e a ti, pelo ridículo, pelo mal que nos faz e nos faz sentir... pelas pedradas que atira no charco, que no final é o teu corpo e que a cada vergastada te fere como se fosses tu a auto-destruir-te...

domingo, novembro 23, 2003

Ha uma comunidade surreal e subversiva, adoradora de zeros e uns, que vagueia por estes cantos de cyberespaco e navega no sol do rato e nas runas do teclado...
por vezes invejo o cigarro... este que vejo aqui diante de mim, já apagado, num cinzeiro sozinho, mas com a certeza segura de que em breve terá enúmeros companheiros, todos eles como ele próprio com o seu fim atingido, com o seu destino realizado... pois todos eles tiveram já a centelha da vida, a chama incandescente de se saberem vivos, apesar de por efémeros instantes... de se sentirem úteis, realizados e apesar de por breves instantes para nós humanos, para eles decerto uma eternidade... acreditarao eles também na vida eterna? ou nas almas? pensará o cigarro nas inquietacoes das suas accoes ou nao accoes ou aguardará pacientemente pelo cumprimento do seu prometido destino? com a cadencia da água no rio e na cascata que vejo em sonhos e que me persegue nos restaurantes chineses, com a seguranca da gota que pinga insistentemente na torneira mal fechada e que tortura pela sua inolvidável consistencia e ritmicidade, pelo tempo que para ela nao passa daquele quase segundo em que se reúne a todas as outras que antes dela já por lá passaram e reviraram tambem aquele ar, aquele frémito de vento pequeno que as formigas abana, sinto a ampulheta da vida que a cada minuto avanca mais um grao e mais um pedaco...
na certeza porém de que cada minuto é meu e de todos com quem o partilho... o que é o tempo, afinal?
Hoje acordei com os xutos no meu coracao e com os pontapes na minha cabeca, a gritar por este circo de feras e por esse teu abraco forte e doce que me arrasta para as nuvens e bem perto das estrelas, que torna tudo mais doce e claro, afastando as trevas e deixando o céu azul...
um ursinho carinhoso, de rainbow na barriguinha...